Oceanos perdem “verde” enquanto aquecimento global avança, indica estudo

Um estudo recente revela que os oceanos do mundo estão perdendo sua tonalidade verde — um indício de declínio nos níveis de fitoplâncton — e sugere que a capacidade natural do planeta de capturar dióxido de carbono pode estar se enfraquecendo.

Verde que desaparece

Ao longo do período de 2001 a 2023, pesquisadores usaram dados de satélite e navios, aliados a algoritmos de deep learning, para mapear diariamente as concentrações de clorofila (pigmento verde presente nos organismos fotossintetizantes). Eles constataram uma queda média de cerca de 0,35 microgramas por litro (µg/m³) por ano na “verdejante” camada superficial dos oceanos tropicais e subtropicais. Nas regiões costeiras, o declínio foi aproximadamente o dobro, e próximo a estuários de rios, mais de quatro vezes maior.

Esse decréscimo na “verdejância” sugere uma redução na biomassa de fitoplâncton – organismos microscópicos que realizam fotossíntese e são fundamentais para a produtividade marinha.

Consequências para carbono, oxigênio e ecossistemas

Os autores do estudo estimam que essa tendência corresponde a uma queda anual de 0,088 % na capacidade dos oceanos de sequestrar carbono, o que equivale a cerca de 32 milhões de toneladas de carbono perdidas por ano.

Menos fitoplâncton significa menos fotossíntese marinha, o que pode afetar não só o balanço de carbono, mas também os níveis de oxigênio dissolvido, a cadeia alimentar marinha e, em última análise, a vida na Terra.

A ciência por trás da tendência

Os pesquisadores associam esse decréscimo à elevação das temperaturas superficiais dos oceanos. À medida que a camada superficial aquece mais, o contraste térmico com as camadas mais profundas se intensifica, dificultando o transporte vertical de nutrientes — processo essencial para alimentar o crescimento dos fitoplânctons.

Em outras palavras, o aquecimento do oceano estaria “selando” as camadas mais profundas, impedindo que nutrientes subam para ambientes bem iluminados onde o fitoplâncton poderia prosperar.

Essa hipótese está em consonância com teorias já estudadas sobre estratificação oceânica e suas implicações para a produtividade marinha.

Surpresa e contraste com estudos anteriores

Alguns estudos prévios apontavam para um aumento de algas em certas regiões oceânicas, sugerindo que o oceano poderia “se tornar mais verde” em resposta ao aquecimento. No entanto, os autores deste novo estudo afirmam que aqueles trabalhos tinham limitações, como coberturas geográficas menores ou resoluções de dados mais baixas, e que o quadro geral — nas latitudes baixas e médias — aponta para um declínio consistente.

O que pode (e deve) ser feito

Diante desse alerta, os pesquisadores recomendam que políticas públicas considerem intervenções costeiras, como:

  • melhor controle do uso de fertilizantes agrícolas
  • tratamento adequado de esgoto
  • contenção de desmatamento e poluição hídrica
  • proteção de zonas costeiras sensíveis

Mas esses esforços locais não serão suficientes sozinhos: o grande desafio continua sendo enfrentar a crise climática global e suas consequências nos ecossistemas oceânicos.

Como observa o cientista Di Long, um dos autores do estudo, “o declínio na capacidade de sequestro de carbono pelos oceanos pode exigir metas de redução de emissões ainda mais rígidas” para manter os compromissos climáticos.

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