Bonecos Reborn geram pânico moral e viram alvo de projetos de lei
Em meio a julgamentos de ex-presidentes e crises de popularidade do atual governo, o Brasil viu emergir uma polêmica inesperada: bonecas hiper-realistas conhecidas como “reborns”.
Cerca de 30 projetos de lei foram apresentados em diversas esferas do poder público para regular o uso dessas bonecas reborn, com propostas que vão desde proibir atendimento pelo SUS até impedir que colecionadores utilizem os bonecos para obter prioridade em filas.
A discussão ganhou força nas redes sociais, novelas e no noticiário após vídeos virais mostrarem colecionadores tratando os bonecos como bebês reais — dando banho, colocando para dormir ou passeando em carrinhos. A repercussão foi tamanha que um homem chegou a agredir um bebê de verdade, alegando que o confundiu com uma dessas bonecas.
Segundo a antropóloga e cientista política Isabela Kalil, o volume de projetos de lei em tão pouco tempo é inédito e reflete uma reação política alimentada sobretudo por parlamentares da direita e extrema-direita, que buscam se manter em evidência enquanto figuras como Jair Bolsonaro enfrentam processos na Justiça.
Apesar do alarde, os projetos atacam situações que, na prática, quase não existem. Há apenas um registro de tentativa de atendimento médico a um boneco — envolvendo uma pessoa com transtornos mentais. Para Kalil, a polêmica revela uma tentativa de deslegitimar hobbies femininos, enquanto homens colecionam action figures ou jogam videogame sem críticas.
Artistas e colecionadoras têm sido alvo de ataques e ameaças nas redes. Larissa Vedolin, conhecida como Emily Reborn, relata mensagens diárias com ameaças de morte. “É ódio puro. As pessoas só querem ter algo para odiar”, desabafa.
Apesar da onda de preconceito, quem convive com o universo reborn afirma que o movimento é, antes de tudo, artístico e terapêutico. As bonecas, que podem custar de R$ 1.400 a R$ 17 mil, levam semanas para serem finalizadas e exigem dedicação minuciosa.
A controvérsia, portanto, expõe mais do que um debate sobre bonecas — revela uma sociedade polarizada, onde paixões políticas, preconceitos de gênero e cultura digital se misturam num caldo de intolerância.
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