Após tarifaço de Trump, setor de pescados do Brasil inicia cancelamento de contratos com os EUA
Exportadores temem fechamento de indústrias e desemprego em massa; setor de pescados pressiona governo por acordo com União Europeia
A recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa adicional de 50% sobre as importações brasileiras pegou o setor pesqueiro nacional de surpresa e já provoca os primeiros impactos: contratos estão sendo cancelados, contêineres retidos nos portos e milhares de empregos ameaçados em plena temporada de exportação.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), o mercado americano responde por 80% das exportações brasileiras de pescados, gerando uma receita anual de aproximadamente US$ 244 milhões. Entre os produtos mais exportados estão a lagosta nordestina, o pargo do Pará, o atum potiguar e a tilápia cultivada no Sudeste e Sul do país.
“De ontem para hoje, quem trabalha com exportação não dormiu. Nosso segmento ficou de pernas para o ar de uma hora para outra”, afirmou Jairo Gund, diretor-executivo da Abipesca. Ele relatou que empresas já iniciaram o cancelamento de embarques, temendo prejuízos com a nova tarifa, que passa a valer em 1º de agosto.
A Fider Pescados, uma das maiores exportadoras de tilápia do Brasil, localizada em Rifaina (SP), ainda tenta entender o impacto. “Estamos digerindo a má notícia. Metade do nosso faturamento vem do mercado externo, principalmente dos Estados Unidos”, disse Juliano Kubitza, diretor da empresa.
Os contêineres de peixe congelado levam de 20 a 40 dias para chegar aos portos norte-americanos. Com isso, empresas calculam o risco de que as cargas sejam taxadas ao desembarcar, tornando o produto inviável. “Para muitos itens, não há alternativa. Vai ficar impossível competir com o pescado local ou de outros países”, alerta Gund.
Pequenos produtores na linha de frente
A maior preocupação do setor é o efeito cascata sobre as comunidades que vivem da pesca artesanal e da piscicultura familiar. Segundo Eduardo Lobo Naslavsky, presidente da Abipesca, diferentemente de outras cadeias de proteína animal, o setor pesqueiro é formado majoritariamente por pequenas agroindústrias que compram o peixe de pescadores artesanais e comunidades tradicionais.
“Essa taxação vai tirar o pescado brasileiro do mercado americano. Não teremos como escoar nossa produção, muitas indústrias vão fechar e milhares de famílias perderão renda”, afirmou Naslavsky.
Saída na Europa
A única alternativa de curto prazo apontada pela entidade é acelerar a reabertura do mercado europeu, fechado desde 2017 para produtos da pesca brasileira por entraves sanitários e políticos. Em nota, a Abipesca cobrou prioridade do governo federal para concluir o acordo Mercosul-União Europeia, travado por disputas ambientais e comerciais.
“A morosidade dessa tratativa, em momentos como este, demonstra a importância de reduzir a dependência de mercados específicos”, destaca o texto.
A entidade defende uma postura diplomática para evitar uma escalada de tensões comerciais, que poderia agravar ainda mais o cenário. “Não podemos correr o risco de medidas retaliatórias que prejudiquem ainda mais o setor produtivo”, alerta Gund.
Contexto internacional
A decisão de Trump faz parte de uma série de medidas protecionistas que miram principalmente a China e países emergentes, em meio à sua campanha para reforçar a indústria nacional e agradar a base eleitoral no setor pesqueiro americano. O governo brasileiro, por sua vez, ainda não se pronunciou oficialmente sobre a tarifa.
Enquanto isso, exportadores de todo o país tentam renegociar contratos, redirecionar cargas e evitar perdas milionárias — numa corrida contra o tempo para manter empregos e evitar o colapso de uma cadeia produtiva que sustenta comunidades costeiras do Norte ao Sul do Brasil.
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