Soldados israelenses relatam caos, mortes de civis e uso de escudos humanos em Gaza
Testemunhos de soldados das Forças de Defesa de Israel (IDF) revelam um cenário de colapso de normas e regras de engajamento durante a guerra em Gaza, incluindo disparos não provocados contra civis, critérios arbitrários para determinar quem é um inimigo e a utilização de palestinos como escudos humanos, segundo relatos apresentados no documentário Breaking Ranks: Inside Israel’s War.
O comandante de uma unidade de tanques identificado como Daniel descreve um ambiente no qual a decisão de atirar depende do comando local. Segundo ele, se um soldado quiser “atirar sem limites”, isso é possível. Alguns militares deram seus depoimentos abertamente, enquanto outros solicitaram anonimato, mas todos apontaram para a dissolução do código oficial de conduta envolvendo civis.
Os soldados confirmaram a prática conhecida informalmente como “mosquito”, em que civis são forçados a entrar em túneis para mapeamento via GPS, contrariando a posição oficial da IDF, que nega coagir civis ou utilizá-los como escudos humanos.
Relatos também incluem disparos contra pessoas correndo em direção a pontos militarizados de distribuição de alimentos operados pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), apoiada por EUA e Israel. Um contratante identificado como Sam afirma ter visto soldados perseguirem dois jovens que buscavam ajuda e atirarem neles. Em outro episódio, um tanque teria destruído um veículo civil.
Soldados citam ainda mudanças na aplicação dos princípios básicos ensinados no treinamento militar israelense, como o critério de “meios, intenção e capacidade” para autorizar disparos. De acordo com o capitão Yotam Vilk, tais parâmetros deixaram de ser considerados no terreno, dando lugar a suspeitas baseadas apenas na faixa etária ou no comportamento de civis.
Em uma situação descrita, um oficial ordenou que um tanque demolisse um prédio em uma área designada como segura após observar um homem pendurando roupas no telhado, classificando-o como olheiro. O disparo levou ao colapso parcial da estrutura, resultando em mortos e feridos.
Análises citadas em agosto, com base em dados do próprio exército israelense, indicaram que 83% das mortes em Gaza eram de civis, taxa contestada pela IDF. Mais de 69 mil palestinos morreram desde o início da guerra, e vítimas continuaram sendo registradas mesmo após um cessar-fogo iniciado há um mês. A ONU concluiu, em setembro, que Israel cometeu genocídio, apontando incitação por lideranças políticas.
A linguagem de autoridades e líderes religiosos teria influenciado combatentes. Alguns soldados afirmam que, após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 — que matou cerca de 1.200 israelenses e estrangeiros — propagou-se a ideia de que “ninguém em Gaza é inocente”. Um porta-voz do presidente Isaac Herzog, citado nos relatos, afirma que ele sempre defendeu causas humanitárias.
O documentário também mostra a atuação de rabinos que incentivaram vingança contra civis palestinos. O clérigo Avraham Zarbiv, que serviu mais de 500 dias em Gaza, teria legitimado destruições em massa e operado pessoalmente veículos militares, afirmando ter influenciado táticas adotadas amplamente pela IDF.
Dados das Nações Unidas apontam que ao menos 944 civis palestinos foram mortos enquanto buscavam auxílio em locais ligados à GHF. Tanto o exército quanto a fundação negam ter como alvo pessoas em busca de comida.
Em comunicado, a IDF ressalta operar dentro da lei e conduzir investigações internas quando há suspeitas de violações. No entanto, casos envolvendo mortes de civis raramente resultaram em responsabilização disciplinar ou criminal.
O impacto psicológico sobre militares também é retratado. Para Daniel, o comportamento adotado pelas tropas destruiu seu orgulho de servir ao país. “Tudo que resta é vergonha”, afirmou no programa.
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