Estudos revelam altos índices de depressão entre maratonistas

Uma nova leva de pesquisas e relatos de corredores coloca em debate o impacto psicológico do maratonismo. Se por um lado a prática é celebrada como um marco de superação física, por outro, cresce a evidência de que longas distâncias podem estar associadas a altos índices de ansiedade, depressão e até problemas de relacionamento.

Um estudo publicado na revista Acta Psychologica, liderado por Leo Lundy — um veterano que já correu mais de 400 maratonas — revelou que 25% dos corredores entrevistados apresentaram níveis “preocupantemente altos” de ansiedade e depressão. Embora 94% acreditassem que a prática era benéfica para sua saúde mental, os testes clínicos contaram outra história.

Segundo Lundy, maratonistas e multimaratonistas tendem a exibir níveis ligeiramente maiores de sofrimento psicológico em comparação à população em geral. Outro trabalho, conduzido pela Universidade de Linnaeus, reforça essa visão ao descrever o período pós-prova como marcado por “ambivalência, perda de energia e melancolia”, um contraste com o famoso runner’s high que dura pouco após a linha de chegada.

O lado oculto da corrida de resistência

Além do desgaste físico, o maratonismo pode afetar relações pessoais. Pesquisas apontam que a rotina exaustiva de treinos e provas cria tensões em casais, gerando até o termo popular “divórcio por maratona”, quando o esporte passa a ocupar o espaço de intimidade e convivência familiar.

Para alguns atletas, correr deixa de ser lazer e se transforma em um mecanismo de enfrentamento psicológico, usado para lidar com traumas, luto ou vícios. Lundy alerta que, nesses casos, o hábito pode se tornar um substituto da terapia, aprofundando problemas em vez de resolvê-los.

A voz dos corredores: “corremos do quê?”

A repercussão do estudo trouxe à tona depoimentos de centenas de corredores que confirmam a dualidade do tema.

  • Muitos relataram que começaram a correr para lidar com depressão, ansiedade ou dependência química. Um usuário afirmou: “É a única coisa que encontrei que me dá uma sensação próxima do que opioides davam, mas de forma saudável e barata.”
  • Há também quem questione a causalidade: se é a corrida que causa sofrimento ou se pessoas com histórico de saúde mental já são mais atraídas por esportes de resistência. “É um clichê em ultramaratonas que a maioria corre para processar algum trauma”, lembrou um internauta.

Ainda assim, relatos positivos também apareceram. Muitos garantem que correr foi essencial para largar vícios, abandonar empregos nocivos e reencontrar propósito de vida. Outros defendem que, quando praticada sem obsessão por performance, a corrida segue sendo uma poderosa ferramenta de autocuidado.

Equilíbrio como palavra-chave

Especialistas ressaltam que o problema não está no ato de correr, mas no excesso e na forma como o maratonismo é encarado. Estratégias sugeridas incluem: respeitar períodos de descanso, diversificar a identidade para além do esporte, investir em vínculos afetivos fora das pistas e, quando necessário, buscar apoio psicológico profissional.

Como sintetiza Lundy: “Maratonistas devem priorizar prazer, recuperação e relacionamentos para proteger sua saúde mental.”

A discussão, que mistura ciência e experiência pessoal, mostra que a corrida pode ser tanto uma válvula de escape quanto uma armadilha emocional. No fim, a linha de chegada mais importante talvez seja a do equilíbrio entre corpo, mente e vida social.

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